REVIEW | F1 24 traz poucas (mas boas) novidades, mas derrapa na jogabilidade

Antes de jogar F1 24, revisitei as análises que escrevi no lançamento das edições de 2021, 2022 e 2023. Desde que a EA adquiriu a Codemasters, o game oficial da Fórmula 1 passou por algumas transformações, mas parece ter estagnado na edição 2024.

Se os toques da EA eram sutis ainda em 2021, em 2022 essa transformação ficou mais clara: o início de uma era mais social para a franquia. Essa perspectiva foi aprimorada em 2023, resultando em um dos títulos mais divertidos da série, ainda que com todas as imperfeições que mencionamos na análise.

A edição de 2024, de certa forma, pisa no freio. Entra em cena um modo carreira mais detalhado e abrangente, o que é ótimo; mas dentro das pistas os carros não parecem responder mais da mesma maneira – a menos que você deixe de lado de uma vez a expectativa de simulação e parta para um embate mais arcade, sem medo de mandar os adversários para fora da pista.

Modo Carreira: a grande estrela da edição

O Modo Carreira de F1 24 é o mais detalhado e mais completo já incluído em um game da franquia. Até então só era possível evoluir com o seu próprio personagem, mas a partir de agora o game permite escolher qualquer um dos 20 pilotos da temporada atual, além dos pilotos da F2 e algumas das “lendas” da Fórmula 1, como os brasileiros Ayrton Senna e Felipe Massa.

Além disso, o fator rivalidade com seu companheiro de equipe ganha peso. Chegar na frente dele, conseguir melhores posições de largada ou mesmo cumprir os testes antes da corrida obtendo voltas mais rápidas são fatores que pesam na evolução dos atributos do seu personagem.

Para quem gosta de mergulhar nas minúcias do universo da Fórmula 1, simular sessões com especialistas, entrevistas com a imprensa e até renegociação de contratos de acordo com a sua performance são ótimas opções.

Os menus aqui foram refeitos, há cutscenes que contribuem para a imersão na história e a simulação da temporada está impecável. E mais: os próprios pilotos gravaram frases com suas vozes para o game, o que torna tudo ainda mais realista.

Mais objetividade e menos firulas

Modos de jogo como o Ponto de Frenagem – um formato interessante que surfa a onda da série “Drive To Survive” – foi deixado de lado. A EA não soube inovar com ele e nos últimos anos apresentou versões de história bastante repetitivas e que não conquistaram o público.

Dessa forma, a EA aposta as suas fichas em tornar F1 24 em uma espécie de EA Sports FC. Ou seja, as famigeradas microtransações do Ultimate Team estão por aqui, mas com alguns diferenciais como o Fanzone, uma série de corridas mais curtas que funciona como uma espécie de “mini-season”.

É inegável que esse modo de jogo e atrativo e viciante. Jogar online com outros jogadores ou mesmo com seus amigos em lobbys personalizados ainda continua sendo uma experiência interessante. Porém, o game caminha a passos largos para oferecer a mesma estrutura da franquia de futebol, o que divide opiniões: amado por uns, odiado por outros, esse parece ser um caminho sem volta na franquia.

Jogabilidade tem mudanças para pior

Confesso que sou um entusiasta das corridas, mas não a ponto de perder horas mexendo no acerto do carro ou em recursos de customização do personagem. Gosto mesmo é de pegar o volante e correr, seja online contra outros jogadores ou contra a máquina. Por isso, ao menos para mim, a jogabilidade precisa ser um ponto de acerto.

Comparando a experiência que tive em F1 24 com os games dos anos anteriores, infelizmente vejo que aqui houve um retrocesso. Os carros estão mais difíceis de serem controlados quando as assistências estão desabilitadas. Parece faltar um equilíbrio: no modo mais arcade, usar outros carros como apoio nas curvas passa a ser uma alternativa viável.

Já no modo mais realista os controles parecem não responder de forma tão precisa. É comum saídas de traseira e derrapagens em virtude de um carro “pesado”. Pode ser uma questão de ajuste mecânico, mas que obriga o jogador a esmiuçar os menus de desempenho do carro para ter acesso a uma experiência mais próxima do ideal.

Nem simulador, nem arcade. F1 24 aposta no equilíbrio, mas derrapa justamente onde a jogabilidade deveria ser o ponto forte.

Além de testar o game com o controle DualSense, joguei também utilizando um volante Logitech G923. Com o volante, a percepção de uma direção mais “dura” é ainda maior. Não é o propósito de F1 24 ser um simulador na essência da palavra, mas o erro de calibragem frustra mais justamente aqueles que provavelmente são menos casuais e passarão mais horas se divertindo com o game.

E ainda assim, vale a pena?

Em todas as reviews que fiz tanto da série F1 quanto de FIFA (agora EA FC), um comentário é recorrente: “não vale a pena pagar o preço cheio por um game que é uma atualização do ano anterior”. Bom, a EA não mudou a sua política e, dado o sucesso de EA FC, provavelmente não veremos alguma mudança nesse sentido tão cedo.

Ainda que seja uma atualização, como acontece todos os anos, a EA trata o game como um novo jogo completo. Porém, no caso da Fórmula 1, as mudanças de uma temporada para outra são mais sutis – de 2023 para 2024 nem mesmo houve mudanças de pilotos nas equipes.

Assim, fica aquela sensação que o game é “mais do mesmo”, ainda que custe a partir de R$ 349,00 em sua versão para PlayStation 5 e R$ 359,00 na versão para PC – a Champion Edition chega aos R$ 479,00.

Sejamos sinceros: é um preço alto para o que o game oferece, mas é o que é, uma vez que esse é o único game licenciado a contar com todos os circuitos da temporada 2024. Confesso que esperava um pouco mais e, como um fã da série, me decepcionei um pouco.

Porém, assim como assistir as corridas de verdade nos últimos dois anos se tornou monótono dado o domínio da Red Bull com Max Verstappen, da mesma forma mantemos a esperança de que uma hora a diversão voltará.

Como acontece todos os anos, provavelmente F1 estará no top 5 dos jogos aos quais eu dedicarei mais horas ao longo de 2024. Porém, certamente serão menos horas do que foram no ano passado, o que é uma pena.

F1 24 foi gentilmente cedido pela EA para a realização desta análise. Jogamos a versão para PlayStation 5.