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Frieren e a Jornada para o Além é sem dúvidas um dos grandes lançamentos dos últimos 24 anos no cenário das animações japonesas, junto com animes como Jujutsu Kaisen, Demon Slayer, Konosuba, Oshi no Ko, Fullmetal Alchemist, Naruto, Bleach, No Game, No Life. E é fácil ver o porquê, quantos animes nos últimos anos conseguiram impregnar no imaginário do espectador durante tanto tempo, e que conseguiu imediata resposta positiva do público? Não somente a popularidade se ressaltou sobre outros animes, mas a boa qualidade em geral do que a estória trás, um enredo de fantasia que se destacou dos demais.
Enfim, os detalhes são tantos, que decidi realizar uma série de matérias para compreendermos melhor como um anime de fantasia conseguiu se tornar tão bem apreciado pelo público, mas também mostrar o que sua composição pode ensinar para outras obras. A começar com um detalhe que é fundamental para o desenvolvimento geral de uma obra, o seu mundo e sua composição.
Se formos realmente colocar na mesa qual o detalhe fundamental para que uma obra funcione e tenha um corpo decente, que desenvolva proporcionalmente e que gere entusiasmo nos espectadores da obra, é o mundo no qual a obra se baseia. Food Wars por exemplo, se coloca como uma animação que escolheu a cozinha e os restaurantes como plano de fundo, e tudo a partir disto se agregou perfeitamente na obra. Frieren e a Jornada para o Além se baseia no que há de melhor no cenário de obras de fantasia, que autores como Tolkien criaram.
As terras médias com classes de personagens espalhados por ela, como os humanos, elfos, anões, magos, demônios, fora os personagens mitológicos dos mais variados, como os dragões e as quimeras. Além de elementos geopolíticos e sociais, como os detalhes feudais, os vilarejos independentes, as ruínas históricas e suas ravinas. A sensação que tive de assistir a uma jogatina de um RPG de tabuleiro, ou de Skyrim, foi o que mais me chamou a atenção em toda a obra, e das mais detalhadas.
O nome da obra já diz tudo e delimita o tom que ela nos oferece em seu desenvolvimento, Frieren sendo uma elfa, pode viver bem mais do que qualquer ser humano, sendo assim capaz de ter jornadas que vão além do espaço-tempo de qualquer um, e com isso, conseguindo explorar e conhecer faixas de terras e ver seu desenvolvimento ao longo desta jornada.
Isto se vê em alguns episódios, como no episódio 17, onde Frieren e sua equipe encontram uma fazenda para cuidarem de Fern, e na última passagem da elfa pelo local, era um vilarejo inteiro. Ou então quando Frieren após muito tempo via dinastias inteiras seguindo sua linhagem por suas gerações posteriores, e encontrava novos desafios de acordo com o momento.
Não somente se vê uma evolução do espaço-tempo e suas dinâmicas e impactos, mas a obra se compõe disso para o enredo. Quando Frieren define sua nova aventura rumo as Terras do Norte, rumo ao “céu” deste mundo, Aureole, seu único companheiro ainda vivo, o anão Eisen, já era velho e sua vanguarda (classe à qual ele pertence nos guerreiros) já não era a mesma, indicando então o seu jovem aprendiz para tal, e já com Fern ao seu lado, o trio começa sua aventura desbravando o enorme continente, basicamente refazendo a jornada original contra o Rei Demônio, e com isto, vemos o desenvolvimento do espaço-tempo na animação.
Isto impacta diretamente no enredo da obra e na composição dos episódios. O dragão que atormentou o vilarejo de Stark, fora encontrado por Frieren e não resultou bem, o que forçou um recuo estratégico, e na volta, Stark enfrenta seu grande medo e consegue derrotar o dragão sozinho, tirando o terror da vila que lhe deu abrigo. Fern quando fica doente, Frieren vai à busca de materiais para cura, o que a leva numa pequena jornada por uma planta rara.
No episódio 16, para que se descubra o paradeiro de um aventureiro amigo de Sein, a equipe tem de realizar tarefas à uma anciã, digno de aventuras secundárias de jogos, e isto se repete de variadas formas durante os episódios, não conheço muitos animes que usam desta forma do mundo ao qual a obra está situada e com tanta fidelidade quanto em Frieren.
Fora que para uma boa experiência disto tudo, o que dizer da beleza gráfica e do design dos cenários? O que realmente me fez pensar em estar imerso no mundo de fantasia do anime, foi a qualidade e forma com que essa imensidão de cenários é explorada. Você não sente uma repetição latente de muitos animes que ocorrem em lugares abertos ou fechados, o que ressalta o bom aproveitamento do mundo no enredo.
O que mostra também a evolução do roteiro ao longo dos episódios, e o quanto que os personagens são bem explorados por episódio. São nos pequenos detalhes que o anime mostra sua beleza, a se ver que Fern ganha uma presilha de borboleta da Frieren ao passar por uma cidade ao fazer atividades, e nas várias localidades que a equipe visita, e nestas pequenas atividades temos as lembranças da equipe de heróis, e compreendemos melhor todo o impacto que Frieren teve neste mundo, o que resvala num dos pontos fortes que abordarei adiante na série de reportagens.
Konosuba consegue ser bom pelo seu humor ridiculamente bem montado entorno de seus quatro protagonistas, mas se você reparar bem, quase sempre estão usando as mesmas roupas e você não vê uma evolução tão detalhada, novamente, o objetivo do anime é seu humor, mas há de se admitir que outros detalhes passam batidos.
Overlord consegue mostrar uma progressão ao estilo de jogo, que aliás, foi onde toda a situação do anime começou, onde se vê conquistas de terras, batalhas de masmorras, ganho de experiência e etc., mas os isekais tem grandes limitações no desenvolvimento de suas estórias, que os animes propriamente baseados em fantasias não tem, enquanto que personagens se transmutam de um mundo para o outro, para o desenvolvimento destes personagens, os de fantasia se misturam naturalmente ao mundo no qual estão inseridos.
É realmente notável ver isto em Frieren, realmente, a Jornada Para o Além faz jus ao nome, e coloca o espectador numa viagem incrivelmente detalhada e proveitosa. Não me impressiona que várias pessoas anseiam por mais episódios, é um anime que te emociona logo de cara, e que permanece em cada episódio. Muitos são os animes que se valem de um momento memorável, ou de um preenchimento de grandes acontecimentos em seus episódios, mas Frieren consegue fazê-lo em todos as cenas.
O mundo é cheio e realmente enorme, me estranhou ver que uma simples viagem à Aureole levaria 10 anos, mas quando você vê que a natureza deste mundo é real ao enredo, ao ponto de uma nevasca impedir a continuação da viagem por meses, os conflitos entre nações que impõe bloqueios na estrada, os acertos geopolíticos que se vê entre povos e que geram novos acontecimentos envolvendo de alguma forma os protagonistas, mostra que há algo de vivo em Frieren, que nos deixa realmente felizes e que nos prende a atenção de maneira muito natural.