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Representar a superfície curva terrestre em estruturas planas é um desafio desde antes do entendimento das reais dimensões do nosso planeta.
Os primeiros passos da cartografia, ciência que aborda a representação de espaços em mapas, podem ter surgido no período da antiguidade. Registros diferentes dão conta de placas desenvolvidas pelos sumérios representando a região da Mesopotâmia, além de mapas traçados pelos gregos a partir de expedições militares e da navegação.
Com a expansão das navegações, a utilização de mapas se fez ainda mais necessária, com o objetivo de garantir a eficiência das grandes expedições. No entanto, qualquer tentativa de reprodução espacial está sujeita a distorções. Neste processo, elas são conhecidas como deformações cartográficas.
Mas por que em alguns tipos de mapas certos países parecem bem maiores do que realmente são?
Especialistas em cartografia apontam que um dos motivos é a escala. Para fazer correspondências de um território em um mapa, são utilizadas escalas reduzidas, o que leva a perdas de informações.
Outro ponto que influencia a produção dos mapas é a superfície curva da Terra que – ao contrário de teorias da conspiração sem fundamentos científicos, não se ajusta a um plano. Hoje, há uma concepção consolidada de que o formato da Terra é a elipsóide, considerando que não se trata de uma esfera perfeita, devido aos seus polos achatados.
Ao longo do tempo, foram criados diferentes modelos de representação em mapas, como explica o pesquisador Vinicius Rofatto, professor do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
“Criamos modelos [de representação] porque a superfície real, física da Terra é extremamente irregular, complexa e dinâmica. Esses modelos nos permitem calcular coordenadas, áreas e volumes, por exemplo, de uma forma mais fácil. É uma questão de aproximação. A engenharia é isso. Geralmente, quando temos um problema real, nós desenvolvemos um problema aproximado, porque a partir dele conseguimos criar soluções reais”, explica Rofatto, em comunicado.
Tipos de mapa
Na transformação de uma estrutura curva para o plano, ocorre uma espécie de deformação para que haja os ajustes necessários para encaixar o objeto de estudo naquela forma proposta.
“A solução imperfeita para esse problema, já que não tem como a gente ficar livre das deformações, é desenvolver e usar um método que cause as menores distorções possíveis. Esse é o objetivo das projeções cartográficas”, diz Rofatto.
Alguns mapas são construídos para preservar a forma, mas não mantêm a área por um problema matemático. Nesse sentido, a utilização de diferentes tipos de mapas acontece de acordo com a necessidade específica. Se o objetivo for guiar a navegação, por exemplo, mapas que preservam a forma podem ser os mais indicados.
“Imagine a Terra como uma pequena bola oca e de papel. Se você achatar ela sobre uma mesa, por exemplo, possivelmente ocorrerão dobras e rasgos. Logo, as projeções da Terra sempre terão deformações, que afetam propriedades, ângulos, áreas e comprimentos, que não são possíveis de se manterem juntas”, exemplifica o professor.
Existem quatro categorias de projeções cartográficas: a conforme, que mantém a forma e ângulo; a equivalente, que preserva a área; a afilática, que não preserva nem a área nem o ângulo, mas busca amenizar ambas; e a equidistante, que preserva a distância em algumas direções, mas não em todas.
Você provavelmente se recorda desta informação das aulas de geografia na época da escola: uma das representações mais conhecidas foi criada em 1569 e levou o sobrenome do criador, Gerhard Mercator. Ela preserva a forma, mas não a área, porque foi desenvolvida pensando em resolver a questão das navegações, que era algo recorrente e que, por questões matemáticas, se tornou o mais preciso para essa finalidade, se popularizando até os dias atuais.
Nesse estilo de mapa, o continente europeu e a Groenlândia, por exemplo, parecem bem maiores que a realidade. Os países mais próximos da linha do equador são aqueles, em questões de tamanho, mais bem representados nessa projeção e os mais próximos dos polos são os que sofrem maiores distorções.
O papel do eurocentrismo
A ideia de que os países da Europa representam o centro do mundo – cultural e espacialmente – também contribui para a formulação de mapas com distorções.
O chamado eurocentrismo é representado cartograficamente de várias maneiras. Entre elas, está a própria projeção de Mercator, que favorece e aumenta o real tamanho de países distantes do equador, como é o caso das nações europeias.
Também influenciam esse contexto as coordenadas utilizadas nos mapas que, muitas vezes, são baseadas no meridiano de Greenwich, que passa por Londres e divide a Terra em Leste e Oeste.
(Com informações de Túlio Daniel, do Portal Comunica UFU)
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