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Conheça a história do homem imune a carrapatos

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Há mais de 30 anos, o professor Richard Ostfeld, do Cary Institute of Ecosystem Studies, atua em pesquisas de campo e de laboratório sobre a ecologia de doenças transmitidas por carrapatos.

Carrapatos em todo o mundo são fontes importantes de agentes causadores de doenças em pessoas, animais de estimação e da pecuária e animais selvagens. Uma vez que um carrapato incorpora suas peças bucais em um hospedeiro, os microrganismos que residem nele podem entrar no hospedeiro, provocando diferentes tipos de doenças.

“Quando os carrapatos picam alguns hospedeiros da vida selvagem, eles também podem adquirir patógenos que podem transmitir posteriormente. Na América do Norte e na Europa, os carrapatos são a fonte mais importante de doenças humanas transmitidas por vetores, mais importantes que os mosquitos”, detalha o professor à CNN.

Um exemplo é o caso da febre maculosa, causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato-estrela. Em 2023, o estado de São Paulo registrou 12 casos, incluindo seis mortes, duas em investigação e quatro pacientes curados. No Brasil, este ano já foram confirmados 53 casos da doença, dos quais oito resultaram em óbitos. A maior concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, e de maneira geral ocorrem de forma esporádica.

“Aqui no Nordeste dos Estados Unidos estamos no epicentro de várias doenças transmitidas por carrapatos. Eu pesquiso os fatores ecológicos que afetam o risco de exposição humana a essas doenças. Nós nos concentramos na biologia de roedores, seus predadores, seus alimentos, reduções de biodiversidade causadas pelo homem e clima. Prevemos com sucesso anos ruins para a doença de Lyme, bem como lugares de risco na paisagem”, disse o pesquisador.

Um fato curioso envolve o pesquisador Richard Ostfeld: ele desenvolveu um tipo de imunidade à picada de carrapatos.

Pesquisador atua no estudo da ecologia de carrapatos há mais de 30 anos / Pam Freeman

“Quando sou picado por um carrapato, pareço montar uma resposta imune rápida ao próprio carrapato, provavelmente aos antígenos da saliva do carrapato. Isso resulta na morte do carrapato antes que ele seja capaz de engolir meu sangue. Percebo uma tentativa de picada de carrapato ao sentir uma coceira ou sensação de queimação no local da picada, forte o suficiente para me acordar durante a noite, se ocorrer durante o sono”, conta.

Ostfeld conta que, ao remover o carrapato, geralmente ele está morto e não alimentado. “Também formo um vergão no local da picada que pode durar vários dias, sugerindo que a inflamação persiste. Apesar das inúmeras picadas de carrapatos, nunca fui diagnosticado para a doença de Lyme ou qualquer outra doença transmitida por carrapatos”, relata.

Rick Ostfeld em pesquisa de campo / Robin Moore

Resistência contra picadas de carrapatos

A possibilidade de resistência de hospedeiros, incluindo pessoas, às picadas de carrapatos é um contexto que requer estudos científicos mais abrangentes.

“Alguns hospedeiros podem montar rapidamente uma resposta imune a proteínas, ou antígenos, na saliva do carrapato, permitindo que eles ataquem e até matem o carrapato. Se isso acontecer antes que os patógenos deixem o carrapato e entrem no hospedeiro, o resultado pode ser proteção contra doenças. Parece que tal resistência requer experiência prévia do sistema imunológico a esses antígenos, de modo que a resistência é adquirida após picadas de carrapatos anteriores, mas não em todos os hospedeiros”, explica Ostfeld.

Carrapatos podem transmitir doenças causadas por vírus e bactérias / Robin Moore

O pesquisador avalia que o estudo da resistência pode ajudar desenvolvimento de potenciais vacinas.

“Se os antígenos certos puderem ser identificados, é pelo menos teoricamente possível projetar vacinas contra picadas de carrapatos. Como os carrapatos podem transmitir tantos patógenos, agentes da doença de Lyme, babesiose, anaplasmose, doença do vírus Powassan e mais, essa vacina poderia potencialmente proteger contra muitas doenças”, explica.

“As vacinas devem ser consideradas seguras e eficazes antes que seu uso seja permitido, mas espero que tais estudos sejam vigorosamente prosseguidos”, conclui.

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