Os pets são uma parte cada vez mais importante das famílias. Por isso, lidar com a perda de um bichinho de estimação pode ser tão difícil quanto o luto pela morte de um ente querido. Não existe fórmula mágica para superar essa experiência triste e desafiadora. Contudo, o momento precisa ser vivido adequadamente para que as pessoas possam seguir em frente.
Especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Danielle Admoni, psiquiatra geral e da infância e adolescência, destaca a importância de viver o luto. “Vemos que algumas pessoas saem correndo, fingem que não aconteceu e até pegam um novo pet no lugar. Mas precisamos vivenciar essa experiência no primeiro momento para, depois, ressignificar e, quem sabe, pensar em ter outro pet.”
É comum não conseguir fazer algumas atividades cotidianas, como dormir, trabalhar e alimentar-se, nos dias subsequentes à morte do animal de estimação. Porém, é fundamental contar com o apoio de familiares e amigos, que devem respeitar o momento sem adotar o discurso do “deixa disso”.
“Admitir que aquele sofrimento é importante e falar sobre isso com alguém próximo ou um profissional da escuta para não nos fecharmos em pensamentos dolorosos. Compartilhar uma dor é dar forma ao sentimento desgovernado e construir caminhos para uma saída da sensação de tristeza”, explica Maico Costa, psicólogo especialista em saúde mental pública e coletiva, e psicanálise no contexto hospitalar.
Para algumas pessoas, a depender das crenças e da religião, um ritual de despedida pode contribuir no processo de lidar com a perda do pet. Hoje, existem serviços de funeral, enterro e cremação de animais, mas o simples ato de escrever uma carta de despedida, por exemplo, também pode ajudar no processo. A melhor escolha varia de acordo com o que a pessoa acredita.
“Os rituais são uma oportunidade de elaboração subjetiva, ou seja, de encontrar outros significados para o acontecimento. A via simbólica ajuda a lidar com a separação sem tanto pesar”, afirma o psicólogo.
Quando a tristeza vai além e é um sinal de alerta?
Antes, acreditava-se que o luto durava até seis meses. Atualmente, os especialistas defendem que não existe um tempo exato e a duração depende de inúmeros fatores relacionados a como a pessoa lida com a perda, a relação que ela tinha com o pet, as crenças e outros aspectos pessoais. No entanto, existem casos em que a tristeza vai além e torna-se um sinal de alerta.
“É normal que, na primeira semana, por exemplo, a pessoa não queira comer, não consiga dormir direito e chore cada vez que vê um cachorro. Apesar da falta e da tristeza, é preciso voltar a estudar, trabalhar e relacionar-se, enfim, a tocar a vida. Se isso não acontece depois de um tempo, ou seja, se há um prejuízo funcional, é importante avaliar se a pessoa não está desenvolvendo algum outro processo além do luto, como um transtorno depressivo”, detalha Danielle.
Portanto, ao perceber que alguém próximo está com dificuldades para retomar as atividades do dia a dia, é essencial recorrer ao auxílio de um profissional, como um psicólogo ou psiquiatra, para identificação adequada do problema e indicação do melhor tratamento.
E quanto às crianças?
Dizer que o cachorro foi para uma fazenda ou que fugiu de casa não é o melhor caminho para justificar a perda de um pet para uma criança. Ambos os especialistas defendem que é importante contar a verdade sobre a morte no bichinho para os pequenos. A recomendação é fazê-lo de um modo que ela entenda da melhor forma possível.
“As crianças percebem e ficam assustadas quando percebem uma situação, mas os pais falam o oposto. Elas percebem que tem algo importante no ar, que os adultos estão tristes e uma mudança gigante, que é a falta do pet. É importante dizer a verdade, dizer que o pet não vai mais voltar e realmente explicar o que é a morte, deixando claro que todos estão sofrendo, mas que vai ficar tudo bem”, orienta a psiquiatra Danielle Admoni.