Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem enfrentar diversos desafios, especialmente quando se trata de aprender. Porém, muitas vezes a dificuldade não está na aprendizagem em si, e sim na forma como ela acontece. Durante a infância, transformar a leitura em uma atividade da rotina que também é divertida é importante para ensinar crianças com autismo a ler.
É comum que crianças com autismo apresentem dificuldades em aprender de formas tradicionais. Isso acontece simplesmente porque seus cérebros processam as informações de maneira diferente do que o de crianças neurotípicas.
Algumas crianças com TEA conseguem prestar atenção por um tempo limitado quando estão ouvindo alguém contar uma história ou estão aprendendo a ler sozinhas. Por outro lado, é possível que comecem a ler bem cedo, e que demonstrem grande interesse em determinados assuntos, querendo ler tudo o que puderem sobre o tema.
Também é comum que essas crianças sejam pensadoras visuais, o que significa que elas pensam por imagens ao invés de palavras. Outras crianças autistas aprendem melhor através do som, ou até com estímulos táteis.
Além disso, o autismo pode causar dificuldade em assimilar e memorizar sequências, como longas frases, números ou instruções em várias etapas. Isso pode ser um desafio para a compreensão de textos.
Independente de quais características como essas a criança apresente, é possível utilizar diferentes técnicas para ajudar no aprendizado e na leitura. Estímulos multissensoriais simples, ensinamentos gradativos e o estabelecimento de conexões com o dia-a-dia da criança ajudam a envolvê-la ativamente no processo de aprendizagem e, assim, a desenvolver habilidades de leitura.
Aqui estão seis dicas para ajudar na alfabetização e no desenvolvimento de habilidades de leitura de crianças com autismo:
1 – Conecte a leitura à rotina
Crianças com TEA normalmente precisam ter uma rotina que garanta previsibilidade ao seu dia-a-dia. Para elas, é importante saber o que vai acontecer, quais serão as atividades do dia, e principalmente se haverá algo de diferente. Essa antecipação dos acontecimentos ajuda a criança autista a se sentir segura, porque dessa forma ela compreende seus objetivos e consegue saber o que as outras pessoas esperam que ela faça em cada momento.
Ler sobre atividades habituais pode ajudar a criança a interpretar o texto e associá-lo ao seu cotidiano. Se seu filho ou filha gosta de rotina em seu dia, a leitura pode ajudar a compreender melhor cada momento e também a passar de uma tarefa para outra.
Por exemplo, ler um livro antes de dormir pode ajudar a criança a compreender que aquele momento é de descanso. Existem livros infantis com histórias que falam sobre momentos do dia-a-dia, como a hora de dormir, o momento do banho e a hora de se alimentar. Esse tipo de tema ajuda o pequeno a se conectar com a história já que a rotina é algo que ele reconhece. Assim, também auxilia a criança a compreender a importância desses rituais cotidianos e a saber como ela deve se comportar em cada um deles.
2 – Apresente temas de interesse da criança
É comum que crianças autistas demonstrem o chamado interesse restrito, ou seja, gostam tanto de um determinado assunto que se fixam nele. Gostam de ler, saber e falar sobre ele, tornando-se praticamente especialistas. O interesse restrito pode ser por um assunto (como dinossauros), uma ação (como alinhar objetos), um objeto (seu brinquedo preferido) ou até um tema mais amplo (como matemática).
É possível aproveitar o interesse restrito da criança para incentivar a leitura, procurando livros que tratem do tema pelo qual ela é fissurada. Se o pequeno gosta muito de trens, que tal ler com ele um livro que fale tudo sobre isso? Podem começar com um livro infantil mais curto, com frases curtas e imagens relacionadas, mas há grandes chances de a criança não querer parar por aí e logo pedir um novo livro para aprender ainda mais.
3 – Procure elementos que gerem identificação
Algumas crianças com TEA têm dificuldade de lidar com contextos novos e com o desconhecido. Por isso, é importante procurar histórias com as quais ela se sinta confortável e, melhor ainda, se identifique. É bom que os livros tenham personagens da sua idade, mostrem familiares, locais que ela já conheceu, ou atividades que ela pratica.
Livros personalizados têm um apelo especial para leitores com autismo. Quando a criança cria seu próprio personagem para ser o protagonista e se reconhece no livro, isso gera identificação e a aproxima das situações vividas na história. O resultado é que ela vai querer ler o livro repetidas vezes, dessa forma incentivando o hábito da leitura e potencializando seu aprendizado. No site Dentro da História é possível criar livros em que a criança participa de histórias junto com a Turma da Mônica e outros personagens famosos, incentivando a leitura através da identificação com o livro.
4 – Ensine um novo conceito por vez
Seja na escola ou em casa, a criança com TEA têm mais facilidade para aprender determinado conceito quando começa com passos básicos e vai aumentando a complexidade gradativamente, em uma ordem lógica.
Ao ensinar crianças com autismo a ler, comece com os fonemas, ou seja, o som produzido por cada letra. Ensine usando exemplos de palavras que a criança usa bastante, como P de “pai” por exemplo, relacionando sempre a objetos e elementos de seu dia-a-dia. Livros sobre o alfabeto podem ajudar nesse processo, com estímulos visuais que a criança assimila a cada letra.
Depois ela começará a formar sílabas, e para essa fase existem diversos jogos educativos que podem auxiliar o aprendizado. Só mais tarde ela terá consciência sobre a formação das palavras e frases.
Em cada explicação, é importante manter instruções diretas e objetivas, lembrando que pessoas com autismo têm dificuldade com conceitos abstratos. É bom sempre seguir uma lógica: revisar o que a criança já sabe, apresentar um único conceito novo, e então praticá-lo.
O tempo de atividades ou de leitura também deve ser ajustado aos poucos. Tente ler por alguns minutos de cada vez no início. Em seguida, aumente gradativamente o tempo de leitura quando a criança melhorar sua capacidade de atenção.
5 – Estimule diferentes sentidos
Cada pessoa aprende melhor de uma forma, e o mesmo acontece com crianças com autismo. Por isso, é importante buscar estímulos multissensoriais, porque pode ser que o pequeno aprenda mais usando a visão, ou então o som, e até mesmo o toque.
Crianças mais visuais gostam de ver aquilo que estão lendo ou aprendendo, por isso é essencial que as imagens do livro correspondam ao que está escrito nele. Dessa forma são criadas associações entre o texto e os recursos visuais, favorecendo o desenvolvimento da linguagem.
Crianças mais auditivas preferem ouvir instruções orais e depois discutir o que aprenderam para solidificar o material. Na leitura, uma boa ideia é adquirir um audiolivro para a criança ouvir enquanto acompanha o texto escrito, para assim ir decodificando as palavras.
Já as crianças “mão na massa” aprendem melhor fazendo, e absorvem melhor o conhecimento quando podem tocar e manipular objetos. Procure livros que sejam acompanhados de outros elementos, ou então seja criativo e crie você mesmo objetos para personificar a leitura! Se a história se passa em uma caverna, que tal criar uma caverna em casa com um cobertor? Construa objetos que aparecem na história, eles vão deixar a leitura mais divertida e fazer com que aprender se torne uma verdadeira brincadeira. Veja nesse outro artigo algumas dicas para ensinar o alfabeto de forma lúdica!
Lembrando que o acompanhamento profissional é importante para o melhor desenvolvimento de crianças com autismo. A fonoaudiologia infantil, terapia ocupacional e psicologia são áreas que trabalham juntas para garantir que a criança alcance o seu maior potencial!
6 – Protagonismo de crianças com autismo na leitura
Se a leitura já proporciona o desenvolvimento de qualquer criança, nós da Dentro da História acreditamos que os livros personalizados têm um potencial ainda maior para as crianças com TEA. Neste outro artigo, falamos com especialistas sobre o potencial da personalização para pequenos com autismo.
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