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Parece até loucura imaginar que um animal vivo em nossos dias, já estava por aí quando foi declarada a independência dos Estados Unidos da América, em 1776, não é mesmo? Ou então, durante a Revolução Francesa, que começou em 1789. Mas isso é possível sim, e este animal é o tubarão-da-Groenlândia, o ser vivo vertebrado mais velho do mundo. Neste artigo, iremos conhecer um pouco sobre este magnífico animal, suas características e os perigos que enfrenta. Vamos lá? Aproveite a leitura!
Tubarão-da-Groenlândia: o que se sabe sobre ele?
Existem cerca de 500 espécies de tubarões conhecidas atualmente e o tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus) é uma das menos estudadas. Um estudo publicado revelou que esse vertebrado mais velho pode chegar a cerca de 400 anos de idade através da datação por carbono. Esses animais são encontrados nas águas gélidas e profundas do Oceano Ártico, e acredita-se que as fêmeas têm uma expectativa de vida de até 272 anos.
Outras espécies de tubarão migram durante a época mais gelada, mas o tubarão-da-Groenlândia é o único que é encontrado durante todo o ano no Ártico, até mesmo nos meses mais frios. Além disso, ele pode ser avistado também no Atlântico Norte e no alto Ártico russo, sempre em águas extremamente frias, com temperaturas abaixo de zero, e em profundidades abismais, mais de 2 mil metros abaixo d’água. Essas características fazem com que esse vertebrado seja tão pouco estudado.
Estudos sobre a espécie mostram que a reprodução do tubarão-da-Groenlândia é lenta, o que contribui para sua longevidade. A fêmea só atinge a maturidade sexual por volta do século de vida, e acredita-se que ela produza poucos filhotes ao longo de sua vida. A incrível longevidade e a baixa taxa reprodutiva tornam esse tubarão uma espécie vulnerável e ressaltam a importância de sua preservação.
Imagem: National Geographic Brasil
Características físicas do tubarão mais velho do mundo
Também conhecido como tubarão-boreal, o tubarão-da-Groenlândia é um dos maiores tubarões conhecidos, podendo atingir um comprimento de até 6 metros, embora haja relatos de indivíduos com 7 metros. Como base para comparação, o feroz predador tubarão-branco pode medir de 4 a 6 metros, a diferença entre os dois é que o tubarão-branco é bem mais pesado com mais de 2 toneladas, enquanto o tubarão-da-Groenlândia não pesa mais que 1,5 toneladas.
Os tubarões-da-Groenlândia possuem corpo cilíndrico, cabeça achatada e larga e geralmente são de cor escura, entre cinza escuro, marrom ou preto, o que lhes confere uma grande vantagem para se camuflarem nas águas profundas em que habitam. Seu focinho é branco e os cientistas acreditam que é devido a “abrasão repetida”: o tubarão arranha seu focinho ao procurar por comida no fundo do oceano. Eles possuem nadadeira anal e sua dentição poderosa é composta por dentes largos quadrados no maxilar inferior e dentes mais afiados na parte superior.
Com o passar dos anos, o tubarão-da-Groenlândia acaba ficando cego devido a um parasita que se instala em seus olhos. O Ommatokoita Elongata é um minúsculo crustáceo, que se fixa a córnea e a danifica, causando uma infecção. Após a infecção curar, fica um tecido cicatrizado por cima do olho, e a cada nova infecção, um novo tecido se forma, e isso, com o tempo, tira por completo a visão do tubarão. Entretanto, sua sobrevivência não é afetada, pois ele se utiliza de outros sentidos aguçados.
Adaptação para o frio
O tubarão-da-Groenlândia é altamente adaptado para sobreviver em temperatura congelantes e pertence a um grupo conhecido como tubarões dormentes. Como o próprio nome do grupo sugere, os tubarões desse grupo são animais de comportamento incrivelmente lento, o que é vital para a sua sobrevivência em águas geladas, pois economiza energia. O tubarão-da-Groenlândia se movimenta a vagarosos 0,34 metros por segundo, e essa “velocidade” lhe garante o título de tubarão mais lento do planeta.
Outra adaptação impressionante do tubarão-da-Groenlândia para viver nessas águas polares são as substâncias químicas presentes em sua pele. Altas concentrações de N-óxido de trimetilamina (TMAO) e ureia funcionam como um anticongelante e impedem a formação de cristais de gelo, estabilizando as proteínas de seu corpo e o mantendo vivo e ativo (mesmo que lentamente) no frio extremo.
Com tanta substância química em seu corpo, a carne do tubarão-da-Groenlândia é tóxica para os humanos, porém, na Islândia ela é utilizada em um prato típico da culinária local conhecido como Hákarl. Para fazer este prato é preciso deixar a carne apodrecer, entrar em processo de fermentação, deixá-la secando durante meses e só depois então é cortada em cubos e servida. Deu fome? 😊
Tubarão-da- Groenlândia – Foto: WikimediaCommons
Comportamento e reprodução
Quando estão com muita pressa conseguem atingir a velocidade de 3 quilômetros por hora! Sim, é isso mesmo, não estamos brincando! E justamente devido a essa velocidade, ou falta dela, é que sua alimentação é baseada quase que totalmente em carniças de animais mortos que encontram no fundo do mar. Porém, há evidências de que são caçadores de emboscada, e se alimentam também de peixes, lulas e até mesmo das velozes focas. Existem alguns estudos que mostram indivíduos dissecados que carregavam em seus estômagos restos de cavalo, renas e outros grandes mamíferos terrestres. Não se sabe se foram comidos ainda vivos ou mortos, após caírem na água, porém, o que se sabe é que esses grandes e longevos peixes podem subir a superfície (mesmo que o façam muito raramente), na borda do gelo, para se alimentar.
São animais de comportamento solitário e buscam companhia apenas no período de acasalamento. Tímidos, não são agressivos e não representam perigo de ataque ao ser humano. Essa timidez toda, sua velocidade lenta e sua preferência pelas profundezas das águas polares dificultou em muito para que se conseguisse imagens desse animal. Somente em 1995 foi possível tirar a uma fotografia, a primeira da história, de um tubarão-da-Groenlândia vivo, segundo a National Geographic.
O tubarão-da-Groenlândia não apenas se move lentamente, mas especialmente vive lentamente. Um estudo do Museu de História Natural da Flórida traz o relato de um tubarão-da-Groenlândia identificado no ano de 1936 e que, após 16 anos, havia crescido apenas 6 centímetros! Para atingir a maturidade sexual e passar a se reproduzir, o tubarão-da-Groenlândia leva 150 anos! São ovovivíparos, e produzem uma média de 10 filhotes em cada gravidez.
Tubarão-da-Groenlândia após ser solto do navio de pesquisa – Foto: Julius Nielsen
Tubarao-da-Groenlândia – O animal mais longevo do planeta
O biólogo marinho da Universidade de Copenhague, Julius Nielsen, é o principal autor de uma pesquisa publicada na revista científica Science, que explora a longevidade dos tubarões-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus). O estudo revela que esses animais são os vertebrados mais velhos do mundo, com uma expectativa de vida de cerca de 400 anos.
Através da datação por carbono, os pesquisadores puderam determinar a idade desses tubarões. Surpreendentemente, uma fêmea que foi encontrada morta, possivelmente após ficar presa em redes de pesca, teve sua idade estimada em aproximadamente 400 anos. Isso significa que ela nasceu no século 17!
Além disso, o estudo mostrou que esses tubarões têm um crescimento extremamente lento, de apenas 1 centímetro por ano. A datação por carbono foi realizada na retina dos animais, que é composta por proteínas metabolicamente inertes. Isso significa que, uma vez sintetizadas, as proteínas não são renovadas. Dessa forma, os cientistas podem isolar o tecido formado quando o tubarão era jovem e realizar a datação por radiocarbono.
Essas descobertas revelam informações fascinantes sobre a espécie e desafiam a crença anterior de que a baleia-da-Groenlândia (Balaena mysticetus) detinha o título de vertebrado mais velho, com idade aproximada de 200 anos.
No total, 28 tubarões-da-Groenlândia foram estudados, e os resultados deste estudo publicado mostram que esses animais têm uma longevidade surpreendente, chegando a viver até 272 anos. Essas informações são fundamentais para entender melhor a reprodução e a história desses fascinantes vertebrados.
Curiosidade: No leste do Atlântico Norte, os tubarões-da-Groenlândia podem ser avistados em fiordes profundos de água doce e devido a essas aparições, existem especulações de que foram esses tubarões que contribuíram para o mito do Monstro do Lago Ness. (Fonte: Oceana.org)
Tubarão-da-Groenlândia enredado em redes de pesca é encontrado morto – Foto: Julius Nielsen
Estado de conservação dos tubarões-da-Groenlândia
De acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), o tubarão-da-Groenlândia é considerado uma espécie “vulnerável” à extinção. E não é para menos, imagine um animal que leva cerca de 400 anos para atingir a maturidade sexual! Fêmeas da espécie podem levar até 156 anos para começar a se reproduzir, o que é uma idade estimada impressionante.
Expectativa de vida de cerca de 400 anos
A expectativa de vida desses tubarões é de 272 e 512 anos, tornando-os tão velhos quanto os vertebrados mais longevos conhecidos. Estudos realizados por cientistas e pesquisadores mostram a longevidade dessa espécie. Especialistas acreditam que a reprodução desses tubarões é um processo extremamente lento, levando séculos para se reproduzirem.
Um experimento provável realizado por pesquisadores revelou que o tamanho desses tubarões pode ser um fator importante para sua longevidade. Esses dados ressaltam a importância de proteger e preservar essa espécie única e desafiadora.
Conclusão
O tubarao-da-Groenlândia é realmente um animal fascinante e notável. Viver por séculos, enfrentando os perigos que os humanos representam e suas adaptações para sobreviver nas condições extremas das águas congelantes do Ártico o tornam, sem sombra de dúvidas, um dos representantes da fauna marinha mais espetaculares e dignos de estudos e ações de preservação. Estes senhores dos mares nos mostram quão imponentes são e o quanto a natureza é impressionante!
Esperamos que tenha gostado de conhecer um pouco sobre esta espécie magnífica de tubarão e lhe aguardamos para os próximos artigos.
Até lá! ♥