A maternidade traz muitas novas responsabilidades e preocupações para a vida das mulheres. Se mesmo sem filhos já é uma tarefa complicada equilibrar o trabalho, a família, a vida social e relacionamentos, após a chegada de um bebê tudo muda. É nesse momento em que grande parte das mulheres se sente sobrecarregada, sofrendo com a cobrança externa e até com suas expectativas sobre si mesma.
Conversamos sobre como lidar com essas questões com a Marília, mãe da Maitê e do Joaquim, que compartilha suas experiências de maternidade real no Instagram Práticas de Mãe. Leia abaixo as experiências dela e suas dicas de como manter a saúde emocional, a vida profissional e um dia a dia mais leve após a chegada dos filhos.
1. Antes de tudo, conte pra gente como você decidiu falar sobre maternidade e compartilhar suas experiências com outras mães!
Marília: Sempre me identifiquei muito com o tema da maternidade e já trabalhava em uma empresa muito presente na internet, então estava inserida nesse ambiente online. Depois que tive a Maitê, minha primeira filha, muitas amigas começaram a me pedir dicas sobre ser gravidez, perguntar como fazer tudo, por exemplo o enxoval do bebê, coisas do dia a dia… Depois tive o Joaquim e decidi criar o Instagram antes de voltar a trabalhar, justamente mostrando dicas de rotina e do meu dia a dia para facilitar o de outras mães.
O que mais incentivou a começar foi ver muito pessimismo sobre a maternidade. Quando eu estava grávida, todo mundo me falava pra eu aproveitar pra dormir enquanto podia, viajar enquanto dava, porque depois de ter filho não ia conseguir fazer mais nada. E quando tive a Maitê que hoje tem 3 anos, não foi aconteceu nada disso. Ela dormia a noite toda e eu e meu marido conseguíamos sair pra jantar, sempre levando ela e nem acordava.
Eis que quando tive o Joaquim, meu segundo filho, vi que cada criança é diferente, desde a gestação. Então não tem regra, na maternidade a gente faz aquilo que pode fazer e quis compartilhar isso com outras mães.
2. É comum a mulher se sentir sobrecarregada, tendo que lidar com os seus problemas, que se somam aos dos filhos, da casa, etc… Como lidar com tanta coisa ao mesmo tempo?
Marília: Eu tento me planejar o máximo possível, para conciliar todas as vontades e tarefas isso é muito importante, me ajuda a aproveitar melhor o tempo. Claro que muitas vezes me frustrei, não tinha tempo para fazer tudo que queria. Na maternidade há fases em que realmente não conseguimos dar conta de tudo porque é mais difícil, principalmente nos primeiros meses do bebê. Mas depois vai ficando menos complicado, as crianças crescem e nos acompanham mais no dia a dia… É importante estarmos de peito aberta aceitando essas mudanças. Com filhos, muitas vezes mudam os planos no meio do caminho e isso é frustrante, mas eu tento ter um tempo pra mim, com cada filho e com o meu marido. Não necessariamente com a mesma frequência, mas eu faço as coisas do jeito que eu consigo.
3. Para você, qual foi a diferença entre a primeira filha e o segundo?
Marília: Cada criança é única, e para mim os dois filhos foram muito diferentes. Na primeira gestação eu estava mais disposta, ainda não tinha um bebê pra cuidar. Foram fases diferentes porque na segunda vez eu estava grávida e já tinha uma filha pequena, ainda bebê que precisava da minha disposição pra fazer tudo.
Então a segunda foi mais cansativa mas ao mesmo tempo mais tranquila, porque eu já sabia que tudo ia dar certo, sabia melhor o que ia acontecer e me cobrava menos. Eu não fiquei me preocupando em como ia ser o parto, não comprei tanta coisa como na primeira… A gente vai aprendendo o que é necessário de verdade, e o que não é.
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4. E como foi voltar ao trabalho depois da gravidez? Quais os principais desafios para as mulheres?
Marília: Eu trabalho em uma empresa há 8 anos e sempre reconheceram meu trabalho, felizmente tive apoio durante a gestação e na volta, eles sempre entenderam tudo que eu estava passando. O mais difícil foi me separar dos meus filhos muitos novos, depois de só 4 meses de licença e 1 mês de férias. Nesse momento, escolhi uma escola em que eu confiei muito, para ter segurança de focar no meu trabalho.
Não é simples, você se sente culpada por deixar as crianças, se separar dos bebês tão pequenos. Mas quando você colhe frutos do seu trabalho e gosta do que faz, ver as coisas acontecendo vai motivando e dando força para passar por essa fase.
Muita gente me fala “Como você conseguiu? Eu me sinto muito mal”. Eu falo calma, que é uma fase, e principalmente não se cobre. Se você precisa trabalhar, escolha uma escola que te tranquilize e vá fazendo as coisas como puder. Se puder passar na hora do almoço para amamentar, ótimo. Chega uma hora em que fica tudo natural: o bebê está bem, você fica bem e as coisas se ajustam. Afinal trabalhar é importante para realizarmos nossos sonhos, e inclusive conquistarmos coisas para o futuro dos nossos filhos.
5. O que você faz quando se sente sobrecarregada?
Marília: Uma coisa eu tive que colocar na minha cabeça, que tem me ajudado muito. Eu sempre terminava meu dia com um milhão de coisas resolvidas, mas focava naquilo que eu não tinha conseguido fazer. Hoje eu mudei isso, eu falo pra mim mesma “Olha quantas coisas boas e consegui fazer.” E o que eu não consegui, tudo bem, vai ficar para amanhã ou para outro momento, mas tento não sofrer por isso. É uma mudança de visão, que já faz um efeito muito positivo no meu dia a dia, na minha cabeça e até no meu corpo. Até acordo mais disposta pra resolver o que preciso, sem lamentação ou culpa.
Meus filhos têm dois anos de diferença, ainda são dois bebês e precisam de muita atenção. Eu também tenho minha vida profissional e pessoal, são mil coisas pra fazer, mas o importante é eu não me culpar do que é impossível naquele momento. E não aceitar a cobrança de fora, que é muito constante na maternidade. As pessoas se sentem no direito de palpitar e exigir coisas das mães, e não sou a favor disso. Eu vou a favor do apoio na maternidade. Se você vê uma mãe ou uma família em uma situação difícil com os filhos, ao invés de apontar o dedo e julgar, vá lá e ofereça ajuda porque isso sim faz toda a diferença.
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6. E a mudança na vida social após a chegada dos filhos, como você lidou com isso?
Marília: Quando eu tinha só uma filha, eu conseguia ter uma vida social muito mais ativa, era bem mais fácil. Agora com dois é mais complicado sair, meu filho mais novo é super espoleta e ainda pequeno, então temos feito muito mais coisas em casa. Porque é uma logística tão grande para sairmos de casa, que preferimos preparar nossa casa de um jeito que as crianças curtam e a gente consiga ter momentos gostosos com visitas, amigos, família, tudo ali mesmo.
Também contamos com a ajuda de uma rede de apoio para de vez em quando termos tempo sem as crianças, por exemplo um jantar, um evento, um show, e então aproveitamos a oportunidade para ter um tempo a dois, que também é fundamental.
Acho que as adaptações são muito importantes mesmo para que todas as mudanças venham para somar. Com filhos, mudam também as nossas vontades… você tem outras responsabilidades, não quer voltar tarde para cuidar das crianças logo cedo no dia seguinte, e você vai naturalmente achando mais divertido fazer outras coisas, junto com as crianças.
7. Na sua opinião, tem como manter a vida de casal após a chegada dos filhos?
Marília: Não é simples e não tem milagre. Mas uma coisa que eu e meu marido sempre conversamos muito sobre, é que temos a tendência de viver a vida dos filhos depois de virarmos pais. Muitos casais se distanciam por causa disso, começam a ter apenas os programas dos filhos … Muda o foco de tudo. Então sempre falamos que não poderíamos esquecer que os nossos filhos são frutos do nosso relacionamento: um dia os filhos serão do mundo, vão seguir a vida deles, porque é assim que tem que ser. E o que vai sobrar é exatamente o casal, por isso não podemos desgastar nosso relacionamento focando apenas nos filhos e esquecendo que tudo é uma trajetória, porque aí não conseguiremos recuperar a vida de casa.
Eu sei que não é fácil, já aconteceram várias vezes de tentarmos sair e tudo se complicar por causa das crianças, porque estávamos cansados, etc. Mas tendo apoio, precisamos fazer um esforço pensando na importância desses momentos do casal, se esforçando para criar esses momentos. Quando dá a gente sai, às vezes é no meio da semana, é um almoço por exemplo. Não precisa ser uma festa ou um grande evento, mas é essencial manter a preocupação com o casal.
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8. Em meio ao caos organizado da maternidade, como você lida com a ansiedade? O que pode ajudar as mães a manterem uma saúde emocional?
Marília: A maternidade é uma cobrança frequente, mas o que eu evito é a cobrança externa, que contribui muito para gerar ansiedade. O que eu tento fazer é nos proteger dessa cobrança, sempre tendo em mente os nossos valores para decidir como conduzir cada situação.
Outro ponto é que meu marido é super participativo. Ter filhos não foi uma decisão minha, mas sim de nós dois, e os filhos são tão meus quanto dele. No dia a dia tomamos as decisões em conjunto, desde coisas muito pequenas mas que geram ansiedade na nossa vida: a lancheira das crianças, o cardápio da janta, as atividades da escola… A gente vai se ajudando para que as coisas fluam e não fique pesado só para um de nós.
Agora que nossa filha já tem 3 anos e meio, temos feito com que ela também participe das tarefas. O dia é corrido, a gente busca as crianças na escola, dá o jantar, já tem que arrumar a lancheira do outro dia… Começamos a trazê-la pra essas tarefas pra ela fazer parte da rotina da família, aprender e valorizar o trabalho de todos. Tudo isso junto vai construindo um dia a dia mais leve.
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E você, tem experiências parecidas com as da Marília quando se trata de maternidade e de saúde emocional? Deixe seu comentário!