A autonomia da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma grande preocupação de pais e cuidadores, e está diretamente ligada ao incentivo do seu protagonismo desde cedo.
Para essas crianças, a leitura traz estímulos muito importantes, ajudando a desenvolver habilidades de comunicação, memória e compreensão de ideias abstratas. Se livros comuns já proporcionam o desenvolvimento de qualquer criança, nós da Dentro da História acreditamos que os livros personalizados têm um potencial ainda maior para as crianças com TEA.
Conversamos sobre esse tema com dois pais de pequenos com TEA. O Edu Agni é designer e pai do Lenin, de 12 anos. A Camila Comitre é especialista em ferramentas de desenvolvimento socioemocional, escritora e consultora na área editorial, também mãe da Mari e do Mumu, ambos com TEA.
Leia abaixo as dicas deles para incentivar a autonomia e o protagonismo das crianças com autismo, e saiba como a leitura e os livros personalizados podem ser ferramentas poderosas nesse processo!
O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico que influencia principalmente as habilidades sociais e a comunicação da criança. A palavra “espectro” da sigla TEA (Transtorno do Espectro Autista) refere-se ao fato de que os sintomas podem ser muito diferentes de pessoa para pessoa. Algumas crianças são mais severamente afetadas, enquanto outras apresentam sintomas mais leves.
Segundo Camila, os desafios para estimular a autonomia das crianças autistas variam conforme a idade e grau do TEA, mas estão ligados a alguns fatores principais:
- Desenvolvimento da comunicação para compreender e ser compreendido, tendo maior consciência de suas responsabilidades e autocuidado na rotina;
- Terapias ajustadas e estímulo incansável e repetido, além de muita paciência e amor, pois quando menos se espera, as crianças com TEA surpreendem a todos;
- A celebração de cada nova conquista, encorajando novos desafios e acreditando sempre na capacidade de desenvolvimento da criança.
Para a especialista, “Um ambiente que estimula ao invés de vitimizar faz com que a criança se fortaleça em diversos sentidos.”. Por isso é importante que os estímulos não se restrinjam a determinados momentos ou ambientes que a criança frequenta, mas que estejam presentes tanto em casa, como nas terapias e também na escola.
Edu também defende o direito da criança com autismo de frequentar locais públicos e conviver com outras pessoas. “Eu e outros pais de autistas passamos por um período de reclusão, de se excluir do convívio, por medo do julgamento ou vergonha das crises que as crianças acabam dando em público, por ter que explicar que ele é especial (já que no autismo não existe uma característica física como a Síndrome de Down).”, diz.
Segundo ele, a reclusão não é o melhor caminho. “O melhor que podemos fazer pelas nossas crianças é não se intimidar com as pessoas, com os julgamentos, com a ‘vergonha’. Quanto mais nos excluímos do convívio social, mais os nossos filhos entram no ciclo de invisibilidade, ou seja, se não são vistos não são reconhecidos como membros da comunidade, e com isso existe a falta de preocupação com acesso e inclusão. Temos que sair de casa com os nossos filhos, e explicar para as pessoas acerca do autismo. Isso não pode ser um tabu.”, defende o pai.
Para Camila, o incentivo constante no dia a dia é importante também para a auto-estima das crianças. “O estímulo de responsabilidades com a rotina de higiene, vestuário, alimentação, organização dos pertences e estudo traz como resultado a sensação de autoconfiança. Isso porque quando a criança se sente responsável por algo, mesmo que de maneira monitorada, estamos favorecendo um cenário de envolvimento e pertencimento, segurança e motivação para novas conquistas e descobertas de habilidades.”, diz a especialista.
A leitura traz benefícios diversos para o desenvolvimento de qualquer criança, e para as crianças com autismo não é diferente.
“Independente do perfil sensorial da criança com TEA, o contato com obras de literatura traz estímulos diversificados. Enquanto alguns se apegam à forma e cores do livro, outros se divertem com os personagens e histórias.”, explica Camila. Segundo ela, uma rotina leitora de qualidade traz como principais benefícios o treino da escuta, da memória e do foco, habilidades importantes para a autonomia das crianças.
Além disso, a leitura promove o desenvolvimento e contato com pensamentos abstratos e um mundo simbólico, onde o faz-de-conta, que pode ser tão complexo para as crianças com TEA, vai se tornando algo habitual.
Edu conta que esse contato é muito importante para Lenin. “Quando era menor, ele adorava livros e revistas (já foi o hiperfoco dele). Passava horas folheando livros e revistas, mesmo sem saber ler até hoje, ficava vendo as imagens e inventando as histórias. Ficou um tempo sem ligar para livros, mas agora o interesse despertou novamente por causa do irmão (de 5 anos). Como o irmão ouve uma história todo dia antes de dormir, isso começou a despertar o interesse do Lenin novamente, que agora pede histórias para dormir, e leva livros para a escola no dia do brinquedo.”, diz o pai.
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Livros que geram protagonismo
Para transformar a leitura em uma atividade ainda mais potente no incentivo ao protagonismo das crianças com autismo, a personalização dos livros é um importante recurso. Nos livros da Dentro da História, a criança com TEA se reconhece na história ao lado de personagens que também geram identificação, aprofundando sua conexão com a leitura.
“Com o poder que a histórias já exercem, e sendo a criança o personagem principal no livro, que se mostra como alguém ativo, que interage com personagens já conhecidos e queridos, o livro personalizado mostra-se como forte ferramenta no estímulo de habilidades sociais e de comunicação que são desafios peculiares para as crianças com TEA.”, explica a especialista Camila.
Ela conta os principais benefícios dos livros personalizados para as crianças com autismo:
- A identificação do nome da criança no texto auxilia no processo de estímulo na fase de alfabetização, sendo uma primeira conexão com o livro.
- Ver-se de maneira ilustrada com suas características e roupas, gera a empatia que fortalece essa conexão, dando espaço para o protagonismo.
- Quando a criança pode se ver em situações inusitadas, interagindo, se comunicando, tomando decisões, resolvendo conflitos ou simplesmente se divertindo em uma aventura, o livro personalizado torna-se uma fonte de repertório, memória emocional e encorajamento para a vida real.
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Para que os benefícios da leitura sejam aproveitados, é preciso torná-la um hábito presente no dia a dia da criança. “Um ambiente leitor silencioso e organizado, com rotina de leitura estabelecida, onde a criança participa do processo de escolha, construção e leitura das histórias, favorece a conexão com o mundo mágico dos livros.”, explica Camila.
Algumas dicas de práticas para ler com crianças com autismo são criar uma narrativa envolvente, com entonações lúdicas e treino de expressões faciais. Isso estimula a compreensão de temas e situações mais abstratas presentes nas histórias.
Camila incentiva seus filhos Mari e Mumu a terem contato com a leitura de diversas formas: “Seja como brinquedo, diversão, estudo ou coleção, os livros fazem parte da rotina dos meus pequenos desde sempre. Estudei sobre o impacto do storytelling como recurso terapêutico e tive excelentes resultados com o uso de histórias para encorajamento e mudança de comportamento.”, diz ela.
Edu também procura novas maneiras de incentivar o contato de Lenin com a leitura, e por isso criou um livro personalizado para ele. “Sempre buscamos diferentes estímulos, é sempre na tentativa e erro. Eu já tinha o hábito de fazer a retrospectiva do dia dele antes de dormir, contando como uma história onde ele era o personagem, e ele gosta muito disso. Por isso quando vi a possibilidade de um livro onde ele estaria na história de verdade, nem pensei duas vezes. E ele adorou. Li pra ele muitas vezes, e inclusive ele levou pra escola várias vezes para mostrar para os amigos.”, conta Edu.
Essa vivência prática se reflete nos estudos de Camila: “A memória emocional dos enredos e do protagonismo, no caso dos livros personalizados, fazem com que a criança com TEA estabeleça uma relação de afeto, vínculo e diversão com o livro, pois dentro daquela história ela sempre pode mais“, explica a especialista.
Experiências reais de leitura
Quando Lenin recebeu seu livro da Dentro da História, no começo estranhou. “O autista entende tudo de uma maneira literal, tem dificuldade de entender metáforas, figuras de linguagem. Demorou um pouquinho para explicar o porque ele estava ali, que era um desenho o representando. Depois que entendeu, adorou. Ele pedia: ‘Papai, lê a história do Lenin? Lê a minha história?’”, conta Edu.
Para o pai, o principal benefício do livro personalizado para o filho é incentivar o seu protagonismo. “Existe uma falta de representatividade que faz com que as crianças não se vejam incluídas. Quando ele se viu dentro da história, fez com que ele se sentisse importante, protagonista, e isso é muito importante nesse processo de auto-afirmação e amadurecimento dele.”, conta.
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Mari e Mumu também já têm seus livros personalizados da Dentro da História, e o protagonismo nas aventuras teve reflexos no desenvolvimento dos pequenos. “Hoje eles se vêem como personagens dentro da história e conseguem administrar muito melhor as questões simbólicas e de abstração. Em fase de alfabetização, da maneira e no tempo deles, é lindo ver a relação deles com obras literárias, abrindo a mente e o coração para que eles tenham o mundo nas mãos e na imaginação, mas que principalmente, sejam seres humanos bons para o mundo.”, conta a mãe orgulhosa.
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