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O termo folie à deux, ou transtorno delirante induzido, é usado na psiquiatria para designar uma síndrome rara, que é caracterizada pela transferência de delírios de um sujeito, considerado psicótico, para um ou mais sujeitos considerados sãos. Ao ser anunciado como subtítulo da sequência de Coringa, a produção gerou curiosidade sobre sua abordagem. Quando o diretor e roteirista Todd Philips (Se Beber, Não Case!) confirmou que a sequência do sucesso de 2019, seria um musical que iria expandir a narrativa original, a decisão gerou dúvidas sobre como seria o resultado final e se o mix de ideias iria funcionar.
Infelizmente, Coringa: Delírio a Dois é uma continuação intrigante apenas na teoria. A proposta do diretor/roteirista em explorar temas como amor, loucura e a complexidade da mente do protagonista fica apenas na promessa. A primeira falha do filme surge na abordagem da dinâmica entre o Coringa e Harley Quinn. Ela devia ser o coração da trama, mas a personagem de Lady Gaga é desperdiçada. A relação entre os personagens já surge pronta, sem nenhum desenvolvimento. A química entre Gaga e Joaquin Phoenix (Gladiador) é quase que nula. Gaga realmente está no filme para cantar (e encantar nesses momentos) e só. O que é uma pena! A produção poderia explorar a linha tênue entre amor e obsessão, mas perde essa oportunidade e torna a relação entre os personagens em algo movido apenas pelo interesse. De positivo podemos citar a estética vibrante e a direção criativa que oferecem uma nova perspectiva sobre o estado mental do protagonista e os motivos que o levaram a cometer os crimes no filme anterior.
Porém é nesse fator que mora o maior erro do filme. Ao desconstruir Arthur Fleck para uma analise mais profunda, a produção ignora tudo que foi construído no filme anterior e não abraça o que funcionou. O primeiro filme usou Fleck para mostrar o escárnio do mundo atual, e fez isso de modo impactante trazendo reflexões sobre a sociedade e sobre as suas próprias atitudes com o próximo. O problema é que essas mesmas reflexões foram interpretadas, por alguns, de modo errado. Com isso, o roteiro decidiu “corrigir” e gerar uma nova análise sobre a psique do protagonista, afim de remover interpretações (erradas) sobre anarquia e revolta, que o filme anterior pode ter apresentado como solução para os problemas sociais que vemos no cotidiano. O que é apresentado, como “solução”, acaba não funcionando bem.
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A construção do musical, embora criativa e com cenários muito bem construídos, é sem graça em alguns momentos. Realidade e os delírios são muito bem separados, o que tira a “graça” de saber se o personagem está ciente de suas ações. Nas canções, o filme tem seus melhores momentos, as músicas em sua maioria são marcantes e as cenas nas quais são apresentadas fluem bem. A produção deve e merece uma vaga nas categorias técnicas, canção original e design de produção, que são INCRÍVEIS!
A atuação de Joaquin Phoenix segue sendo magnética. Porém, é como Coringa que ele tem seus melhores momentos. O ator se entregou a mais uma transformação física intensa, para mostrar no corpo as mazelas que seu personagem trás consigo. A risada do personagem que antes era carregada de dor e sofrimento e deixada de lado com o passar do tempo. O que é estranho, já que essa é a marca registrada do personagem.
Coringa: Delírio a Dois não é uma obra que todos vão apreciar e está longe de ser uma experiência tão memorável e provocadora quanto ao filme original, mesmo tendo alguns elementos interessantes e merecedores de destaque. Uma decepção…