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Crítica | Alicerçada na poderosa performance de Cate Blanchett, ‘DISCLAIMER*’ é uma das melhores séries do ano

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Alfonso Cuarón não é considerado um dos melhores diretores da história do cinema por qualquer motivo: ao longo de sua expressiva carreira, o realizador deu origem a diversas produções de calibre altíssimo, reiterando a si próprio como um criador respeitável da sétima arte. Apenas a encargo de exemplificação, Cuarón encabeçou o terceiro capítulo da saga ‘Harry Potter’ (considerando a melhor entrada da franquia mágica), o suspense pós-apocalíptico ‘Filhos da Esperança’, a epopeia sci-fi ‘Gravidade’ e o drama ‘Roma’ – cada qual infundido com uma estética única e, ao mesmo tempo, reunindo os principais elementos que o sagraram no escopo do entretenimento.

Em outubro deste ano, ele fez um glorioso retorno com a minissérie ‘DISCLAIMER*’: baseada no romance homônimo de Renée Knight, a trama acompanha uma famosa jornalista chamada Catherine Ravenscroft (Cate Blanchett) que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando um romance recém-publicado expôs um sombrio segredo sobre seu passado e a lançou em uma empreitada para não apenas trazer a verdade à tona, mas proteger sua família de um vingativo pai de família que deseja destruir tudo o que ela conhece a qualquer custo. O resultado não poderia ter sido outro: a produção não apenas se sagra como uma das melhores do ano, como mostra que até mesmo narrativas conhecidas podem ser recontadas e remodeladas quando nas mãos de um hábil time criativo.

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A série se inicia com Catherine recebendo um prêmio por seu trabalho jornalístico, sendo invejada pelos colegas de trabalho e mantendo-se numa zona de conforto dentro de seu casamento com Robert (Sacha Baron Cohen), enquanto pisa em ovos em sua relação com o distante filho Nicholas (Kodi Smit-McPhee). Porém, após receber a cópia de um romance inédito, ela percebe que alguém tem conhecimento de seu condenável passado – o autor da obra, Stephen Brigstocke (Kevin Kline), que deseja se vingar de Catherine por considerá-la culpada pela morte de seu único infante, o jovem Jonathan (Louis Partridge), quando se encontraram em uma viagem na idílica costa italiana. Expondo o infame segredo, Stephen e Catherine se veem engolfados em um embate psicológico de proporções e consequências catastróficas (e que envolvem o público desde os primeiros minutos).

A produção emerge como um intrincado compilado de engrenagens que é manejado com escolhas que beiram a perfeição técnica: afinal, não são muitos os realizadores que conseguem trabalhar uma narrativa tripartida – cada uma contando com um tipo específico de narrador, a fim de garantir que os espectadores compreendem o que se estende diante deles. Ficando responsável também pelo roteiro, Cuarón escolha a primeira pessoa para contar a história de Stephen, colocando-o como um relator não-confiável e movido por frustrações, cego por uma vendeta pessoal que se recusa a enxerga o óbvio; já a personagem de Blanchett, centro do enredo, é auxiliada por uma narradora em 2ª pessoa que parece consolá-la em meio a eventos derradeiros; as outras personas, enfim, são guiadas pela onisciência da 3ª pessoa, colocando-as em uma alienação perturbadora e angustiante.

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Os arcos confluem em um ponto em comum – as cenas em flashback que acompanham Jonathan e uma jovem Catherine (interpretada por Leila George), cujo relacionamento é-nos contado através de uma falsa sensação de cumplicidade e tragédia. E, à medida que o roteiro explora as camadas dessa densa análise da condição humana, Cuarón lança-se a uma divisão certeira de técnicas que variam da sobriedade melancólica de uma paleta de cores quase monocromática (movida pela unilateralidade dos tons frios) ao pseudo-onirismo de algo que, como descobrimos, nunca aconteceu (marcado pelo uso constante de cores mais quentes e de uma luminosidade paradisíaca). O diretor, inclusive, promove referências a diversas produções pelas quais ficou responsável, seja com longos planos-sequências, seja com momentos que trazem paisagens oceânicas como reflexo de emoções primordiais e inescapáveis.

A série nos convida a conhecer personagens complexos ao longo de sete episódios – mas esse enorme sucesso não seria alcançado sem o árduo trabalho de um elenco estelar. Baron-Cohen, Kline e Smit-McPhee brilham em seus respectivos microcosmos, unindo-se, eventualmente, em uma espécie de cruzada contra a “inimiga número um” em que Catherine se transforma; entretanto, é Blanchett quem domina a minissérie em uma das melhores performances de sua carreira. Recém-saída de uma entrega fabulosa e espetacular em ‘TÁR’, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, a multipremiada atriz rende-se a um tour-de-force melodramático que em momento algum tangencia um apreço novelesco. Ela desfruta de uma química invejável com seus parceiros de cena, singrando pela tênue linha entre o trauma e a insanidade com facilidade aplaudível.

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‘DISCLAIMER*’ é uma obra-prima televisiva, uma conquista audiovisual cuja altíssima qualidade é cortesia de um dos nomes de maior prestígio das últimas décadas. E, enquanto Cuarón arquiteta um thriller epopeico que honra o romance de Knight, o elenco insurge como a cereja de um delicioso bolo – alicerçado, especialmente, em uma interpretação irretocável e narcótica de Blanchett.

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