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Crítica | A Garota da Vez

Crítica | A Garota da Vez

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Existe um fascínio geral pelo True Crime, ou melhor dizendo, essas produções que buscam recriar crimes que chocaram o mundo real seja em formato de série ou filme e que cada vez mais formam um público cativo. É curioso pensar que hoje em dia podemos olhar para criminosos do presente e do passado como produtos a serem explorados cada vez mais pela indústria audiovisual e, pensando no potencial de mais uma dessas histórias mórbidas mas reais, Anna Kendrick debuta como diretora ao olhar para o caso de Rodney Alcala.

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      Em A Garota da Vez, a perspectiva se alterna entre a dramatização dos crimes de Alcala (Daniel Zovatto) e os acontecimentos que levam ao encontro da atriz Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick) com o assassino em um programa de encontros televisionado. É importante dizer que nos dois casos existe uma ênfase na perspectiva das mulheres que sofreram pelas mãos do criminoso, que aqui é representado como alguém que transita entre uma vulnerabilidade manipulativa e impulsos de agressividade. Pensando nesse interesse pela perspectiva feminina, focar no caso de Bradshaw como linha principal do filme é uma decisão que valoriza a desconstrução de qualquer ideia que alguém como Alcala teria ao desumanizar mulheres.

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Woman of the Hour. Daniel Zovatto as Rodney in Woman of the Hour. Cr. Leah Gallo/Netflix © 2024.

      Bradshaw é representada como alguém que, mesmo tentando ganhar a vida em Hollywood, nega os processos de aliciamento que afetaram e afetam tantas outras mulheres na indústria e ,como consequência, isso acaba “atrapalhando” o desenvolvimento da sua carreira. O programa de encontros Dating Game vai servir então como esse lugar de embate entre os sexos, de um lado o conflito de Bradshaw entre ceder ou combater as ideias que projetam sobre ela do que deveria ser o seu papel de gênero e de outro lado Alcala como esse homem manipulador que se aproveita também da incapacidade de tantos outros homens em estabelecer uma comunicação genuína com mulheres para parecer alguém muito melhor em comparação.

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      Apesar de apresentar uma espécie de caricatura dos gêneros dentro dessa lógica de embate, o assunto aqui não parece ser uma desvalorização “gratuita” do homem em função da mulher, mas sim a denúncia de uma forma de pensar que hoje mesmo sendo vista por muitos como antiquada ainda afeta diretamente a vida de tantas pessoas. Feminicídios ocorrem diariamente, a objetificação ou infantilização de corpos femininos ainda é um problema, chega a ser assustador que mesmo essa sendo uma história de mais de 40 anos atrás esses temas ainda sejam de tanta relevância, mas parte do que faz filmes assim serem de tanto interesse do público é que a catarse do cinema fala muito sobre a vida. E nesse sentido, A Garota da Vez cumpre seu papel como uma forma de conto de alerta.

      Anna Kendrick estreia, então, de maneira sólida na cadeira de diretora, fazendo um trabalho honesto e organizado que costura muito bem os casos que envolvem os crimes de Alcala em uma obra que renega tudo que esse homem poderia representar como ideal. A Garota da Vez, no fim, faz seu nome ao valorizar o “ser mulher”, mesmo que por vezes se apoiando nessas caricaturas tanto masculino quanto feminino para chegar aonde precisa.



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