Ser pai ou mãe é uma jornada repleta de desafios, conquistas e, é claro, um amor incondicional. Um dos principais objetivos na criação de filhos é prepará-los para se tornarem adultos independentes, capazes de tomar decisões e enfrentar os perrengues e delícias da vida, sendo seres humanos bacanas pra si e para o mundo. Hoje nossa conversa vai ser sobre a importância de criar filhos autônomos, nossas dificuldades, estratégias e o quanto o desenvolvimento dessa autonomia impacta a maneira como nossas crianças vão encarar o mundo, suas tarefas e relações.
A autonomia é um caminho de construção, uma parceria entre crianças e seus cuidadores. Nossos bebês chegam tão dependentes, arrebatando nossos corações e nos transformando em pessoas com super poderes de execução e cuidado, com um feeling apurado para as necessidades físicas e emocionais daquele ser. O tempo passa e eles vão crescendo, conquistando novas habilidades em seu desenvolvimento. No caso das crianças atípicas, e eu tive experiências totalmente distintas nesse quesito, mesmo com a Mari e o Mumu tendo o mesmo diagnóstico, a autonomia vai sendo estimulada e aprimorada no tempo deles. No nosso caso, acreditar na capacidade dos nossos filhos com muita paciência e persistência trouxe grandes ganhos de médio e longo prazo. Sabe aquele trabalho de formiguinha que pede constância, carinho e fé? É mais ou menos sobre isso.
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Respeito e confiança como bases essenciais
Olhar para nossos filhos como seres que precisam de suporte, mas principalmente, de respeito em suas escolhas e sentimentos é uma base muito interessante para esse caminho da autonomia. Quando julgo estar sempre certa sobre a maneira de ser e fazer das crianças eu não dou espaço para que eles treinem e aprendam pelos seus próprios passos. Criar um espaço seguro, com algumas limitações de segurança, porém com oportunidade da criança de tentar, errar, tentar de novo e crescer, ajuda muito na conquista da confiança, que anda de mãos dadas com essa tal autonomia. Nossas crianças são seres pensantes, cheios de potencial, energia e sentimentos. Validar essa potência é um passo fundamental para que eles sejam autônomos em suas tarefas diárias.
Diferente do abandono, dar autonomia não é deixar a criança em solidão, pelo contrário. É estar ali, oferecendo apoio em suas necessidades, colocando-se presente em suas dificuldades, e sobretudo acreditando na capacidade de crescimento e aprendizagem dessa criança. E eles geralmente nos surpreendem, como quando chegamos na escola ou na casa dos avós ou tios e nos contam que nossos filhotes foram capazes de organizar algo, dar opiniões, perceber movimentos e ambientes, comunicar seus desejos de um jeito diferente do que fazem em casa. Ficamos surpresos, contentes, e às vezes, até um pouco incomodados “Como eles se viraram assim sem mim?”
Autonomia na prática
Muitas vezes ficamos no automático, fruto dessa vida corrida de pais sobrecarregados, e nos acostumamos a fazer muitas coisas por eles, porque é mais rápido e dá menos trabalho estar no controle. Eu fiz e, em vários momentos, ainda me percebo fazendo coisas pelas crianças que eles já sabem fazer ou tem total potencial em fazer sozinhos, mas não realizam porque tem alguém fazendo por eles. Hoje o Mumu dá a comida pro seu cachorro sozinho e já sabe a hora de ir para o banho antes da escola. Já a Mari arruma seus materiais e uniformes sozinha um dia antes, já que estuda de manhã. Esse estímulo para a autonomia se dá desde rotina de autocuidado, organização de roupas, brinquedos e materiais até sua capacidade de resolver problemas e falar sobre o que sentem, num momento mágico em que nos permitimos sair um pouco desse controle. Oferecer esse espaço de aprendizagem e erro dá trabalho, demora mais e pode atrasar nossa agenda apertada, mas é imprescindível para que no futuro a gente possa ser pais “dispensáveis”.
Super pais indispensáveis
Mas, será que estamos preparados emocionalmente para sermos “dispensáveis”, ou, pelo contrário, nossa carência ou nosso papel fundamental de pais nos coloca como seres indispensáveis eternamente na vida dos nossos filhos? Vejo muitos pais lamentando pelo excesso de dependência dos filhos adultos com relação à tomada de decisões, relacionamentos e dependência financeira, principalmente. Algum gargalo na construção dessa autonomia aconteceu lá no passado e hoje, esses pais indispensáveis, sentem-se sobrecarregados e com medo do que vai acontecer com seus filhos quando eles forem embora.
Criar filhos em uma sociedade cada vez mais conectada e imediatista tem suas dificuldades. Como pais, muitas vezes nos vemos lutando para equilibrar a supervisão necessária e o estímulo à independência, enfrentando o desafio de deixá-los assumir responsabilidades e tomar decisões por si mesmos, sem cair na armadilha de superproteção.
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Autonomia nas atividades e autonomia emocional
Uma das formas de cultivar a autonomia em nossos filhos é incentivar sua participação ativa nas atividades diárias. Desde cedo, devemos ensiná-los a cuidar de suas necessidades básicas, como se vestir, arrumar a cama e fazer tarefas domésticas apropriadas para a idade. Conforme eles crescem, podemos envolvê-los em atividades mais complexas, como preparar refeições simples e gerenciar seu tempo de estudo. Essas experiências gradualmente os capacitarão a se tornarem autossuficientes e a desenvolver habilidades práticas essenciais para a vida adulta.
Além da autonomia nas atividades diárias, é fundamental cultivar a autonomia emocional em nossos filhos. Ensinar-lhes a identificar e expressar suas emoções de forma saudável é um passo importante para que aprendam a lidar com desafios emocionais futuros. Devemos encorajá-los a compartilhar seus sentimentos e opiniões, ouvindo ativamente sem julgamentos, acolhendo, incentivando e validando seus desconfortos.
Uma vez a Mari chegou em casa reclamando da maneira como a professora falou com ela. Se, pela emoção, eu tomo suas dores e vou à escola pedir providências, eu tiro da minha filha sua oportunidade de resolver conflitos. Eu tiro sua voz e protagonismo no enfrentamento de suas questões. Expliquei pra ela que, se algo a incomodava, ela deveria conversar com a professora. Percebendo a Mari insegura, ensaiamos em casa como seria essa conversa. No outro dia ela se encorajou, conversou e resolveu com segurança e respeito. De alguma maneira criamos um espaço seguro para que ela desenvolvesse sua capacidade de autorregulação emocional, de leitura de suas emoções e necessidades e de estratégias para enfrentar e comunicar isso tudo.
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