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Walter Salles, aclamado diretor brasileiro, responsável por títulos como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, retorna às telonas com seu novo longa, Ainda Estou Aqui, que fez sua estreia no Festival Internacional de Veneza, no dia 1° de setembro desse ano. Com uma repercussão para lá de positiva, o filme vem colecionando elogios desde então e já está sendo visto como um forte candidato na temporada de premiações, não só indicação e possível vitória em filme internacional, mas também uma nomeação para Fernanda Torres como melhor atriz, dentre outras categorias que a princípio teria menos chances, mas poderia correr por fora.
É inevitável que os brasileiros torçam para se verem representados no Oscar, a maior – em termos de alcance – premiação de cinema televisionada. Porém, é preciso ressaltar que independente de quantos prêmios ganhe ou perca, Ainda Estou Aqui é um grande filme por si só e tem méritos próprios que vão muito além dos troféus que pode vir a receber.
O filme começa com o retrato de uma família, no Rio de Janeiro de 1970, os Paivas, que vivem o verão carioca com o máximo de normalidade que conseguem em meio à ditadura militar, sempre atentos ao cenário político da época, sem se deixar ser consumido por ele. Durante os primeiros minutos do longa, acompanhamos calmamente suas rotinas, para nos familiarizarmos com aquelas pessoas e, consequentemente, nos afeiçoarmos por elas. Somos convidados a conhecer a casa que acolhe tantos amigos, jantamos com eles e comemos o suflê de Eunice, acompanhamos suas idas à praia e a adoção do cachorro Pimpão, nos tornamos parte daquela família.
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Ainda que boa parte dos brasileiros já tenha, ao menos, ouvido falar nos Paivas, é essa longa introdução que torna o filme tão universal, pois Salles permite que todos consigam se conectar com esses personagens, independentemente de qualquer conhecimento prévio. A calma com que conduz a sua história, é o maior acerto do diretor, não só para nos ambientar, mas também para servir de contraste com o que está por vir. Os dias ensolarados na areia do Rio de Janeiro que serão substituídos pela escuridão de uma cela, tão vazia e sem individualidade quando contrastada com a alegria da casa tão cheia de vida e personalidade do começo do filme. A sensação de perda se torna mais dolorosa, quando sabemos exatamente o que estamos perdendo.
Então quando Marcelo é levado e Eunice se vê forçada a assumir sozinha sua família, sentimos o seu desespero, como se fosse nosso. Porém apesar de tudo, é nela também que encontramos resiliência. Eunice representa a força de uma mulher que se recusa fazer o papel de vítima, mesmo quando é exatamente isso que todos esperam dela. Ela fará justamente o oposto e continuará servindo o jantar com seu famoso suflê, mandando seus filhos para a escola e pedindo-lhes que sorriam para a foto.
Todavia, tentar reequilibrar sua vida, não significa que ela vai fingir que nada aconteceu, pelo contrário, enquanto busca reestabelecer uma rotina em prol de seus filhos, busca também seu marido desaparecido, de todas as formas que sabe como. Vivida pela magnânima Fernanda Torres, Eunice assume o protagonismo da casa e da trama, reunindo a determinação e coragem típicas de uma mãe-ativista, sem nunca perder a postura elegante, a despeito de todas as dificuldades que são jogadas em seu caminho.
O olhar humanista com que Salles conta a história pela perspectiva dessa mulher tão grandiosa é o que torna esse filme tão digno de cada um dos aplausos que recebeu em Veneza. Ainda Estou Aqui vai muito além de uma temática relevante, é a abordagem escolhida pelo diretor e imprimida pelo elenco que o tornam tão brilhante.