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As mudanças climáticas foram essenciais para que um grupo de dinossauros chamado sauropodomorfos se espalhasse pelo planeta há cerca de 230 a 180 milhões de anos.
Os dados são de um estudo com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista científica Current Biology.
A partir de dados obtidos em fósseis e de simulações meteorológicas que permitem estimar as condições climáticas do nosso planeta no passado, os especialistas avaliam que há 230 milhões de anos, as regiões tropicais tinham grandes variações de temperatura e chuvas. Esse fator limitava a presença dos sauropodomorfos a locais de clima mais ameno, distantes dos trópicos.
No entanto, o cenário muda com o aumento da umidade, relacionado com o surgimento de novos oceanos a partir da fragmentação do supercontinente Pangeia, por volta de 200 milhões de anos. As mudanças permitiram que o grupo alcançasse áreas de clima tropical.
O paleontólogo Pedro Godoy, um dos autores do trabalho, explica que o período abordado pela pesquisa estendeu-se do Triássico Superior até o final do Jurássico Inferior, entre 230 e 180 milhões de anos antes dos tempos atuais.
“Ele foi selecionado pois engloba os primeiros milhões de anos de evolução dos dinossauros, o evento de extinção acontecido na transição do Triássico para o Jurássico, há 200 milhões de anos, e o período de expansão da distribuição geográfica de alguns grupos, durante o Jurássico Inferior”, afirma Godoy, pós-doutorando da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, em comunicado.
“Nesse período, o que vemos na disposição dos continentes é que o supercontinente Pangeia estava dividido em dois principais blocos: Laurásia ao Norte, que incluía a América do Norte, Europa e Ásia, e Gondwana ao Sul, que incluía a América do Sul, África, Antártica, Austrália, Índia e Madagascar”, prossegue.
Para as estimativas, os estudiosos utilizaram dados climáticos como temperatura e precipitação média anual, além da variação sazonal de temperatura. “Eles vêm de modelos que combinam informações ambientais do registro fóssil e simulações meteorológicas para gerar dados altamente precisos. Assim, nós temos dados ‘paleoclimáticos’ para cada uma das localidades onde os fósseis de dinossauros foram encontrados”, explica Godoy.
O paleontólogo acrescenta que o período Triássico foi um período mais quente e seco, ao passo que o Jurássico é caracterizado por um aumento da umidade, relacionado à fragmentação do supercontinente Pangeia, que deu origem a novos oceanos. “Alguns estudos também sugerem que o Triássico possuía variações sazonais mais drásticas, mesmo em regiões tropicais”, diz.
Jornada tropical
A principal mudança na distribuição dos dinossauros no período se deu em relação aos sauropodomorfos. O grupo inclui animais herbívoros e pescoçudos, como o Apatossauro. Porém, durante o Triássico Superior, os primeiros representantes do grupo eram bem menores, ainda sem pescoços tão longos, diz o paleontólogo.
“Em relação à distribuição geográfica, durante o Triássico Superior eles estavam mais restritos a regiões temperadas, ou seja, mais distantes dos trópicos. Inclusive, uma das regiões mais importantes para entendermos a origem dos dinossauros é o Rio Grande do Sul, no Brasil, onde foram encontrados alguns dos exemplares mais antigos do mundo”.
No Jurássico Inferior, os pesquisadores observaram que os sauropodomorfos se encontram mais espalhados no globo, habitando também regiões tropicais. Segundo Godoy, este padrão é diferente do observado para outros dinossauros e também para outros tetrápodes, que já habitavam regiões tropicais antes do final do Triássico.
“O que os nossos resultados mostram é que essa mudança na distribuição geográfica possivelmente se deu por causa das alterações no clima ocorridas na transição do Triássico para o Jurássico”, aponta. “Como explicado, as regiões tropicais durante o Triássico Superior possuíam variações sazonais mais extremas, que possivelmente limitavam a ocorrência do grupo nestas regiões. Com o aumento da umidade durante o Jurássico, eles finalmente puderam ocupar estas regiões mais próximas da linha do Equador”.
Godoy afirma que o estudo abre caminhos para novas pesquisas sobre como as mudanças climáticas podem ter influenciado o declínio de outras espécies.
“A facilidade de acesso a esses dados também nos permite investigar os efeitos em outros grupos de animais e plantas, o que fortalece nosso conhecimento sobre o tema e nos ajuda a construir melhores previsões sobre futuras eventuais extinções, como as decorrentes do atual processo de mudanças climáticas”, conclui.
(Com informações do Jornal da USP)
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